terça-feira, 19 de julho de 2011

8 ANOS DE ORDENAÇÃO SACERDOTAL

Padre  Everaldo dos Santos  Xaveriano  em  Missão  nas  Filipinas

Sou o padre Everaldo dos Santos, um missionário xaveriano de Nova Laranjeiras, (PR) e trabalho nas Filipinas, um arquipélago de 7.107 ilhas do imenso e lindo continente asiático. Aproveito para partilhar sobre a minha experiência de trabalho missionário fora da“ terrinha.” Cheguei nas Filipinas como estudante ainda em 1997. O primeiro ano desta experiência foi dedicado ao estudo da língua inglesa; o segundo ano foi dedicado ao estudo da língua tagalog, e, nos próximos quatro anos que se sucederam, estudei teologia como parte da minha formação em preparação para a vida missionária e sacerdotal. Aos 19 de julho de 2003 fui ordenado sacerdote em Nova Laranjeiras (PR), e logo em seguida retornei às Filipinas para reiniciar a experiência missionária, como padre. Desde então  trabalhei como vigário paroquial de uma paróquia dedicada a São Francisco Xavier localizada na periferia de Manila que é a capital do país.  Além disso, trabalho também como coordenador diocesano da Pastoral Missionária na diocese de Novaliches.

O  TRABALHO  NA  PARÓQUIA
A paróquia na qual trabalho abrange uma área muito pequena de aproximadamente 2.5 km², porém com uma população demais de 60 mil habitantes, dos quais em torno de oitenta por cento são nominalmente católicos. Obviamente eu não trabalho sozinho. Primeiramente porque faço parte de uma comunidade internacional de três padres: eu, brasileiro, um mexicano e um bengalês. E em segundo lugar porque trabalhamos dentro de um espírito de cooperação comos líderes leigos das 38 comunidades que compõem
aparóquia. O aspecto sacramental da nossa pastoral exige que dediquemos a maior parte do nosso tempo. Além das missas diárias na paróquia e outras comunidades religiosas, confissões e adorações Eucarísticas semanais, nunca se têm menos do que 14 missas cada domingo. Faz-se também uma médiade 15 batizados cada domingo.  Já no aspectomais social da nossa pastoral, devido à condição em que vive o povo, abaixo da linha de pobreza, a paróquia vem dando bastante atenção à educação e saúde. Ajudo a administrar uma escola paroquial de 1º e 2º graus no momento com 560 alunos.  Sob os cuidados da paróquia temos também uma biblioteca, hoje com mais de 15 mil livros, que serve gratuitamente a estudantes também de outras escolas de todos os níveis, inclusive de faculdade, que fazem uso desse serviço em suas pesquisas.  Já na área de saúde, nossa paróquia possui uma clínica que oferece serviço médico à população mais carente que não teria condição de ser tratada em hospitais privados, já que o sistema público de saúde praticamente inexiste. Porém o enfoque maior deste projeto é dado aos pacientes com tuberculose. Eles recebem todo o tratamento gratuitamente, juntamente com formação humana e catequese.

                                ANIMAÇÃO  MISSIONÁRIA
Ironicamente este tem sido o aspecto mais desafiante do nosso trabalho, principalmente do meu, como coordenador diocesano. Pastoral missionária ainda é um termo bastante desconhecido principalmente entre o clero local. E esta é uma das dificuldades para fazer com que esta pastoral seja estabelecida de maneira concreta em nível de paróquia.  Espera-se que no futuro seja possível incluir a dimensão missionária na formação permanente do clero e incluir Missiologia no currículo dos seminários. Certamente devido
ao fato de a diocese em que trabalho concentrar uma parcela muito grande dos pobres da Grande Manila,  seu plano pastoral tem como prioridade organizar comunidades de base e as pastorais tendem a se voltar para as necessidades básicas de sobrevivência. Em situações em que a vida é constantemente ameaçada, e se luta para sobreviver, pensar no bem estar “do outro” no sentido ad gentes e ad extra parece ser um luxo de quem não tem sua própria vida ameaçada. Muito embora a Igreja Local não deva esperar resolver todos os seus problemas internos primeiro para só então começar a enviar missionários para fora. Pois igreja que não é missionária não é igreja, muito menos a de Jesus Cristo. Mas o Espírito sopra onde quer, e, quando menos se espera se encontram pessoas aqui e acolá que se encantam com a idéia de participar da missão evangelizadora da Igreja também além fronteiras. É interessante observar que, ainda que de maneira desorganizada os filipinos leigos tem sido, talvez até sem saber, grandes missionários como migrantes em terras não-cristãs ou em países onde o cristianismo já deixou de ser relevante. 10% dos filipinos trabalham fora do país e, muitos são os casos em que eles optam por testemunhar valores cristãos entre muçulmanos do Oriente Médio e por animar comunidades já quase sem vida da Europa e da América do Norte. A Igreja Filipina está começando a acordar-se, ainda que lentamente, para o fato de que ela tem uma responsabilidade especial já que abriga 50% dos católicos do continente todo. É a missão de testemunhar Jesus Cristo entre seus irmãos da Ásia, continente que abriga 2/3 da humanidade, mas que cujo número de cristãos não vaimuitoalémde 3%.

                                            EM  CONCLUSÃO
Eu estou muito feliz de poder estar tendo esta experiência. Apesar de estar nas Filipinas por quase 14 anos, não me sinto filipino, ao contrário cada vez mais me sinto que sou brasileiro. Mas descobri que é perfeitamente possível ser uma presença significativa nas Filipinas tanto para mim quanto para eles. Acho que a minha experiência representa aquilo vai acontecer cada vez mais daqui para frente na vida da igreja, que é a missão de pobre para pobre. Como se vê o trabalho é bastante e às vezes a gente se sente como “pau-pra-toda obra”, mas para mim, a nível pessoal, o mais importante de tudo não é o que eu estou fazendo, mas o que eu estou me tornando. Posso dizer com certeza que esta experiência missionária tem mexido muito comigo. Estou me tornando uma pessoa melhor. Uma pessoa mais cristã. Atualmente faço parte da equipe de formadores encarregada da Comunidade Internacional Xaveriana de teologia, preparando novos Missionários. Um grande abraço a todos e, rezemos uns pelos outros!

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