BEATIFICAÇÃO DO PAPA JOÃO PAULO II

Seis anos após sua morte, o papa João Paulo II foi proclamado beato, pelo seu sucessor, Bento XVI, em uma cerimônia assistida por 1,5 milhão de pessoas na Praça São Pedro, no Vaticano. "Com a nossa autoridade, concedemos que o venerável servo de Deus João Paulo II seja chamado de beato e que se possa celebrar a sua festa todos os anos, no dia 22 de outubro, nos lugares e conforme as regras estabelecidas pelo direito", declarou o pontífice. Seguiram-se oito minutos de palmas. Na janela principal da fachada da Basílica de São Pedro, uma cortina correu devagar para mostrar um rosto sorridente e ainda cheio de juventude de João Paulo II, com uma auréola de santo aplicada em fundo de céu azul. A freira francesa Marie Simon Pierre, beneficiada pelo milagre aprovado para a beatificação, depositou junto do altar uma relíquia de seu benfeitor - uma ampola com sangue colhido no hospital, em seus últimos dias de vida. Bento XVI também parecia emocionado em beatificar o seu antecessor, com quem ele trabalhou durante 23 anos. "Passaram-se já seis anos desde o dia em que nos encontrávamos nesta praça para celebrar o funeral do papa João Paulo II. Já naquele tempo, sentíamos pairar o perfume da sua santidade", afirmou o papa em sua homilia. "Ele abriu a Cristo a sociedade, a cultura, os sistemas políticos e econômicos, invertendo com a força de um gigante, uma tendência que podia parecer irreversível", acrescentou. O papa João Paulo II pode ser canonizado "dentro de alguns anos". "Basta um milagre cientificamente provado e considerado como tal, (uma cura) vista como inexplicável do ponto de vista científico pela comissão médica, pela comissão teológica, assim como pelos cardeais e bispos membros da Congregação para a Causa dos Santos", afirmou o cardeal. Durante a manhã, depois da declaração de beatificação pronunciada por Bento XVI, muitas pessoas presentes à Praça São Pedro clamaram "Santo Subito" (Santo Já), como fizeram há seis anos, durante o seu funeral. A beatificação de João Paulo II foi realizada em tempo recorde. Geralmente, o processo começa cinco anos após a morte do candidato. João Paulo foi beatificado no dia em que a Igreja celebra o Dia da Divina Misericórdia, que neste ano caiu no 1º de maio, coincidindo com o Dia do Trabalho, o que para muitos é uma feliz coincidência, já que o papa foi operário metalúrgico.

Cura de religiosa: o milagre atribuído a João Paulo
A cura inexplicável de uma religiosa francesa que sofria de Mal de Parkinson abriu o caminho para a beatificação do Papa João Paulo II, morto em 2005 após um longo calvário provocado justamente pelas consequências da doença. A freira francesa, Marie Simon-Pierre, enfermeira de profissão, segundo a Congregação para a Causa dos Santos, curou-se inexplicavelmente depois de orações e pedidos dirigidos a João Paulo II, poucos meses após a morte do pontífice. Marie Simon-Pierre, na época com 40 anos, trabalhava em um hospital de Aix-en-Provence, no sul da França, quando foi diagnosticada em 2001 com Parkinson. Em 2007, a religiosa decidiu contar à imprensa como havia melhorado "milagrosamente" depois que a doença se agravou, em 2005, ano da morte de João Paulo II. Após dias de orações e pedidos de toda a comunidade ao papa polonês, Marie Simon-Pierre conta ter deixado de sentir os sintomas da doença na madrugada entre os dias 2 e 3 de junho. "Eu me senti completamente transformada. Senti que estava curada", contou. O caso da freira, que viu João Paulo II uma única vez em 1984, foi submetido à análise da Congregação da Causa dos Santos, que examinou e aprovou o milagre, após consultas junto a um conselho de especialistas médicos e teólogos. O processo sofreu atrasos porque a congregação vaticana fez questão de considerar qualquer possível objeção, submetendo o caso a vários peritos. De acordo com o monsenhor Slawomir Oder, encarregado da documentação para a canonização de João Paulo II, a religiosa enferma seguiu o conselho de sua madre superiora, que sugeriu que ela escrevesse em um pedaço de papel o nome de João Paulo II. Depois de uma "súplica extrema" e ao longo de uma "noite de pregação", Marie Simon-Pierre teria então se curado, segundo Oder, destacando que entre os documentos que comprovam o milagre estão exemplos da caligrafia da religiosa antes e depois da cura misteriosa. "A mudança na letra é impressionante: de ilegível a normal", afirmou. Para não deixar dúvidas sobre a confiabilidade de seu depoimento, a religiosa se submeteu também a um exame psiquiátrico, contou Oder. O prelado explicou ter escolhido o milagre da francesa entre outros atribuídos a João Paulo II para demonstrar que o papa sentia na própria pele "a batalha pela dignidade da vida". Em 19 de dezembro de 2009, o Papa Bento XVI aprovou "as virtudes heroicas" de Karol Wojtyla - João Paulo II. O processo de beatificação foi iniciado por Bento XVI dois meses depois da morte de seu predecessor, um prazo excepcionalmente breve. Durante as dezenas de homenagens fúnebres a João Paulo II na praça de São Pedro, em Roma, milhares de fiéis clamaram pela canonização do pontífice. Uma vez beatificado, é preciso provar que João Paulo II intercedeu em um segundo milagre para que seja canonizado.

NICÓSIA - O turco Ali Agca, que tentou matar o papa João Paulo II há 30 anos, disse estar "muito feliz" com a beatificação do Pontífice, cuja cerimônia acontecerá no próximo domingo. Nesta sexta-feira, o caixão com o corpo do antigo líder da Igreja Católica foi retirado da sepultura. Ele ficará exposto em frente ao altar principal da Basílica de São Pedro, no Vaticano. Após a missa de 1º de maio, o local onde ficará o caixão poderá ser visitado por fiéis. - Queria participar da cerimônia de beatificação na Praça São Pedro, mas o governo italiano não me deu permissão (para entrar no país) - contou o turco à agência Ansa. - Eu, Ali Agca, proclamo João Paulo II a melhor pessoa do século passado. Espero, em um futuro próximo, poder visitar o túmulo do Pontífice e o Santuário de Fátima - acrescentou. Em 13 de maio de 1981, Ali Agca atirou contra João Paulo II na Praça São Pedro, no Vaticano. O polonês Karol Wojtyla, que morreu em 2005, ficou gravemente ferido, sobretudo devido aos disparos que o atingiram na região do abdômen. O turco foi detido em flagrante e ficou preso na Itália. João Paulo II visitou o seu algoz na cadeia e o perdoou. Em 2000, Agca foi extraditado para a Turquia, onde permaneceu preso por outros crimes cometidos antes do ataque contra João Paulo II, como o assassinato de um jornalista. Ali Agca ficou, ao todo, 29 anos e dois meses na prisão, sendo solto no dia 18 de janeiro de 2010.